sábado, 24 de dezembro de 2011

Frei Rubens Sevilha é nomeado bispo

QUA, 21 DE DEZEMBRO DE 2011 08:55 / ATUALIZADO – QUI, 22 DE DEZEMBRO DE 2011 11:01POR: CNBB
O papa Bento XVI nomeou como bispo auxiliar de Belo Horizonte (MG), o monsenhor João Justino de Medeiros Silva. E como bispos auxiliares de Vitória (ES): padre Joaquim Waldimir Lopes Dias, atualmente Vigário Geral da Diocese de Jundiaí (SP) e o frei Rubens Sevilha, atualmente Provincial dos Carmelitas Descalços no Sudeste do Brasil.
Em Belo Horizonte (MG), chega monsenhor João Justino de Medeiros Silva. Filho da cidade de Juiz de Fora, ingressou no Seminário em 1984. Graduou-se em Ciências Sociais pela Universidade Federal de Juiz de Fora e em Pedagogia pelo CES/JF. Foi ordenado presbítero em 13 de dezembro de 1992. Continuou sua formação teológica na Universidade Gregoriana em Roma onde obteve, em 1997, o título de Mestre e, em 2003, de Doutor em Teologia. Na arquidiocese de Juiz de Fora (MG) fez o seguinte itinerário: exerceu o ministério de pároco-solidário na Paróquia Nossa Senhora da Conceição de Benfica e da paróquia Bom Pastor. Desde 2004 é vigário paroquial da paróquia São Pedro e exerceu três mandatos como vigário da forania Santo Antonio. Foi formador no Centro Vocacional Nossa Senhora da Conceição, professor do Curso de Teologia do CES/ITASA, vice-reitor e reitor do Seminário Arquidiocesano. Em 2010, foi nomeado Vigário Episcopal para a Cultura, Educação e Juventude. Além de membro secretário do Colégio dos Consultores, Monsenhor João Justino trabalhou como assessor da Comissão Episcopal Pastoral da CNBB e desde 2007 é membro do grupo de teólogos peritos da referida Comissão. Foi secretário da Organização dos Seminários e Institutos do Brasil (OSIB) do regional Leste II da CNBB. É professor visitante do Seminário Diocesano Nossa Senhora do Rosário de Caratinga (MG).
Em Vitória (ES), chegam os monsenhores Joaquim Waldimir Lopes Dias e Rubens Sevilha. Monsenhor Joaquim nasceu em Cafelândia (SP), estudou em sua cidade e em Bauru (SP) antes de ir para a Faculdade em Jundiaí (SP), aonde cursou administração de empresas. Estudou teologia em São Paulo e foi ordenado no dia 12 de dezembro de 1997, em Jundiai. Co-diretor do Cursilho de Cristandade por um ano e diretor até os dias atuais. Foi vigário das paróquias São Sebastião, em Itupeva (SP) e Nova Jerusalém, em Jundiai. Pároco da paróquia São Francisco de Assis em Campo Limpo Paulista (SP), da paróquia Nossa Senhora da Piedade em Várzea Paulista (SP) e da paróquia São Roque em Jundiai. Foi presbítero a serviço da Diaconia Territorial Santo Antonio em Campo Limpo Paulista e vice-reitor e reitor do Seminário de Filosofia e Teologia Nossa Senhora do Desterro, em Jundiai. Monsenhor Joaquim Waldimir também foi Administrador Diocesano e Vigário geral da diocese de Jundiai.
Monsenhor Rubens Sevilha é membro da Ordem dos Carmelitas Descalços (OCD). Nascido em Taraby (SP), cursou Filosofia na Faculdade Nossa Senhora Medianeira dos Jesuítas em São Paulo e Teologia no Colégio Teológico Internacional do Teresianum em Roma. Foi ordenado em 19 de outubro de 1985 e exerceu as seguintes atividades: Mestre dos postulantes, em Caratinga (MG); Mestre de noviços, em São Roque(SP); Provincial dos Carmelitas Descalços no Sudeste do Brasil em 1996. Assistente Espiritual da Associação Santa Teresa das Monjas Carmelitas Descalças; conselheiro da província e pároco da paróquia Santa Terezinha de Higienópolis, em São Paulo; reitor da Basílica de Santa Teresinha no Rio de Janeiro e, novamente, provincial dos Carmelitas Descalços no Sudeste do Brasil.

terça-feira, 29 de novembro de 2011

ENTREVISTA PARA O JORNAL "A TRIBUNA DE PIRACICABA"







O Monte Carmelo no centro-oeste de Israel, como um manto verde triangular, estende-se, por 20 km, uma cadeia montanhosa que, desde Meguido, afina-se em direção ao mar mediterrâneo, levando consigo a terra que adentra o mar com uma ponta, formando aos seus pés uma baía. Naquele ponto há um terraço que termina com uma parede de pedra de 700 metros. A este local aludia-se quando se nomeava o Monte Carmelo, nome, porém, que se refere a toda a cordilheira. O nome Karmel, derivado de Karem (vinha), pode significar campo, lugar fértil ou vinha em flores. 

Em Piracicaba há 60 anos foi fundado o Convento das Carmelitas, num ponto de destaque para aqueles que passam pela avenida Armando Salles de Oliveira, nas proximidades do cruzamento com a Saldanha Marinho. Muitos moradores de Piracicaba já estiveram na Igreja do Carmelo, ou “Carmelitas”, como é popularmente denominada. Outros a vêem de longe e imaginam que ali existe mais um templo religioso da nossa cidade. Ao primeiro contato com as irmãs religiosas residentes nesse convento já dá para notar que são pessoas especiais. Exalam o que sentem: o mesmo amor que Cristo teve pelos seus semelhantes. Séculos depois de ser fundada a ordem das Carmelitas, elas estão mais atuais do que nunca. As freirascarmelitas como uma bússola apontam o Norte da felicidade humana: ela está em nosso interior. Em suas vidas reclusas, de oração e meditação, árduo trabalho, distante, mas não alheias das angustias humanas, vivem intensamente uma realidade de grande alegria, impossível de imaginar sem as conhecê-las. Duas freiras relatam um pouco de si e do cotidiano: irmã Mariana da Cruz (Maria Albeni Teixeira Cruz) e irmã Maria de São José (Aparecida Gomes Claro). 

As irmãs nasceram em Piracicaba?
A irmã Mariana responde dizendo ser cearense, natural de Itapipoca, residiu a maior parte do tempo em Itapagé, próximo a Sobral, até sua família mudar-se para São Paulo, e nasceu em 2 de fevereiro de 1960. A irmã Maria de São José é de Avaré, onde nasceu em 9 de maio de 1939. 

Irmã Mariana, a senhora antes de ingressar na Ordem das Carmelitas exerceu alguma outra atividade?
Trabalhei 16 anos na empresa FSP Metalúrgica, no departamento de Controle de Qualidade e como auxiliar de engenharia. Ao sair montei um supermercado onde permaneci por alguns anos, até 2001. Ficava na região de Santo Amaro, São Paulo. Vendi o supermercado e fui trabalhar por um ano como recepcionista em uma clinica de cirurgia plástica que tinha dois consultórios, um em Santo Amaro e outro no Itaim Bibi. 

É interessante a trajetória da senhora, geralmente os religiosos que conhecemos já seguem a carreira desde muito jovens.
Meus pais Manoel Sinfrônio da Cruz e Isaura Teixeira da Cruze eram muito católicos, todo dia ele reunia a família para rezar o terço. Ainda criança eu sentia o chamado da vida religiosa, mas não me atentei muito para isso. Ao alcançar a idade adulta cheguei até a me afastar um pouco da igreja, em decorrência do trabalho, convívio na sociedade. No inicio do ano 2000, comecei a sentir o chamado da fé religiosa. Não resisti mais, entrei em outra comunidade, a Comunidade Católica Shalom, eu fui enviada para Salvador onde permaneci por um ano. Senti, no entanto, que deveria entrar para o Carmelo. Voltei para São Paulo. 

Quem era mais religioso?
O meu pai. Acredito que a família influencia muito nas vocações religiosas. 

Não havia certa tentação em assistir uma novela ao invés de rezar o terço?
É natural que se tenha, só que temos opções e capacidade para discernir. Todos têm condições de dimensionar os valores e temos a liberdade de opção. 

Irmã Maria de São José, com que idade a senhora passou a viver a vida de religiosa?
Era a primogênita, aos 18 anos segui a vida dedicada à religião. Filha de João Antonio Claro e Inácia Gomes Claro, ainda muito jovem senti atração pela religião. Quando eu era ainda pequena mudamos para Bandeirantes, no Paraná. A paróquia era de Santa Terezinha, eu via a imagem de Santa Terezinha no altar-mor e pensava que gostaria de ser como ela. Na verdade eu nem entendia direito nem sabia o que eram ascarmelitas. Eu gostava do hábito dela, segurando as flores com Jesus Menino nos braços. Com 15 anos conheci as irmãs Franciscanas do Coração de Maria, que existe aqui em Piracicaba, na rua Boa Morte. A fundação delas é em Campinas, e elas fundaram um pequeno educandário em Bandeirantes. Meu pai era muito religioso, Vicentino, Congregado Mariano, tanto ele como mamãe eram muito compreensivos, sempre valorizaram muito os filhos. Disse ao meu pai que gostaria de seguir a vida religiosa. Pelo fato dele ser muito religioso, não colocou o menor obstáculo. Um dia ele ao chegar em casa e falou: “Conversei com a madre e ela me disse que você deve ir até lá para falar com ela.” Fui até lá, a madre convidou-me para morar com elas, que iriam me ensinando e disse: “Com o tempo você vê se é isso mesmo que você deseja”. Fiquei lá, continuei meus estudos e permaneci um ano como aspirante, fiz o postulado. Com o passar do tempo senti que não era aquilo que eu desejava. Comecei a conhecer melhor o Carmelo em Campinas. Boa parte da minha família morava em São Paulo, uma das minhas tias disse ao meu pai, que em São Paulo, no Jabaquara tinha o Carmelo. No dia seguinte fomos ao Carmelo, a madre disse que o quadro de irmãs estava completo. 

Quantas irmãs residem em uma unidade carmelita?
Depois do Concilio passou a ser 21 irmãs. Isso porque quando a comunidade é pequena é mais fácil a vida de fraternidade. A madre disse então que as irmãs tinham saído de lá para fundar o Carmelo em Piracicaba. Aqui foi fundado em 11 de abril de 1951, eu entrei em 1957. Até ser construída a Igreja do Carmelo as freiras permaneceram na Casa Diocesana. 

A senhora veio de São Paulo acompanhada por quem?
Vim com o meu pai. Ao chegar a Piracicaba tomamos uma charrete e viemos até o Carmelo.

As irmãs saem da clausura?
Saímos por motivo de saúde e mais recentemente para exercer o direito do voto, nas eleições. 

Quando a senhora chegou quantas irmãs carmelitas existiam em Piracicaba?
Havia seis irmãs. O Carmelo estava em construção ainda, ajudei a fazer reboque, carregar tijolos, pintar, limpar as árvores, isso dentro do nosso quintal. Entrei aqui no Carmelo no dia 12 de outubro de 1957, meu pai fez questão de me trazer. Recebi uma blusa branca uma saia marrom e um véu branco. Seis meses depois recebi o habito no dia 23 de abril de 1958. 

A cerimônia de tomada de habito é muito bonita.
Antigamente a irmã entrava vestida de noiva, assistia à missa, saia ia vestir o habito. Atualmente não se usa vestido de noiva, e a cerimônia não é mais publica, é só entre as irmãs. 

Como é o dia a dia no Carmelo?
Levantamos às 4h30 da manhã, depois rezamos a primeira hora, chamada laudes, fazemos a oração mental, rezamos o terço, rezamos a segunda oração litúrgica, ou tércia, saímos, vamos tomar café. Em seguida cada uma vai realizar seu trabalho: lavar roupas, costurar, limpar. Às 10h45, vamos para a terceira hora litúrgica, também chamada de sesta, fazemos um exame de consciência do que fizemos até aquele momento. A nossa vida é assim, qualquer trabalho que realizamos é uma forma de oração. Em seguida vamos ao refeitório, para o almoço, durante o qual fazemos a leitura espiritual.

Irmã Maria de São José diz:
A lembrança dos Santos é eterna, se o senhor perguntar quem foi tal pessoa que viveu há 30 anos, muitas pessoas não saberão dizer, mesmo que essa pessoa tenha ocupado um cargo importante, mas se perguntarmos quem foi Francisco de Assis, que viveu há 700 anos, muitos lembrarão. Os justos viverão eternamente. 

A senhora teve a oportunidade de viver mais tempo antes de entrar para a comunidade, isso dá um embasamento muito grande?
Eu era uma moça normal, trabalhava, tinha amigos, saia passear, em shopping, cinema, dançava, tinha namorado. 

A senhora nunca pensou em se casar?
É que os planos de Deus eram outros, e Deus é fiel aos seus planos. Deus não desiste de nós. 

Em livros de romances, filmes, ou novelas a decepção com a vida amorosa leva a moça a recolher-se em um convento. Isso pode ter acontecido?
Quando eu me determinei a seguir a vida religiosa eu estava muito bem afetivamente. Pessoas mais próximas achavam que eu estava fora do meu juízo. Quando chega uma jovem querendo entrar no convento analisamos a sua história, se ele tiver tido alguma decepção sentimental, nós pedimos que ela vá repensar sua vocação, nem recebemos a pessoa em nosso meio. A pessoa que vive como escravo, seja qual for a escravidão, ela não está tendo a sua vida, não está vivendo. 

Muitos são escravos de seus desejos, suas vontades e ambições?
Muitos são de forma inconsciente. Geralmente as pessoas confundem sua liberdade, aquelas que se acham donas do mundo, são na realidade escravas do mundo. O mundo é dono dela. É dono do mundo aquele que não depende do mundo. 

As irmãs assistem televisão?
Como o nosso foco de interesse é de cunho religioso, assistimos esporadicamente eventos religiosos, em particular pronunciamentos e cerimônias do Santo Padre. Nossa leitura é de cunho católico. 

As irmãs usam Internet?
Usamos para trabalhos. 

Isso significa que as irmãs carmelitas não são pessoas alheias à tecnologia?
Há muita coisa boa, muita noticia da Santa Sé. Precisamos conhecer a realidade, se não sabemos o que acontece nem temos conhecimento do que mais necessita as nossas orações. 

Os habitantes de Piracicaba procuram o Carmelo?
Geralmente telefonam, marcam a vinda até aqui, expõem suas angustias, procuramos ajudar com palavras ou encaminhamentos a sacerdotes ou até mesmo para a área médica se for o caso. A ciência sempre ajuda. Santo Agostinho já falava que: “O homem está sempre inquieto enquanto não encontra Deus”. As pessoas atualmente procuram satisfazerem-se no consumismo e nos prazeres da vida, nada irá preencher um vazio que só Deus preenche, Deus é a felicidade perfeita. Quanto mais a pessoa entra nesse consumismo, mais ela irá se esvaziar, muitas vezes a pessoa entra em depressão. Há casos em que a depressão é de natureza orgânica, independente do grau de satisfação da pessoa, trata-se de questão de saúde. O homem está perdendo a sua identidade de ser humano. O pecado desumaniza. 

O que é pecado?
É tudo que desagrada a Deus! Nossas falhas, que podemos trabalhar, e não cometê-las deliberadamente. O ser humano precisa se conhecer para poder se trabalhar, se eu conheço o inimigo tenho força sobre ele. 

Qual é o remédio para os males da humanidade atualmente?
Reencontrar o Criador! Temos tido um progresso material muito grande, isso é bom, a Igreja quer que todos participem desse progresso. Que todos tenham saúde, escola, moradia. O homem do século 21 acha que não precisa mais de Deus. 

O trabalho das irmãs carmelitas atrás dessas grades é em benefício da humanidade?
Toda nossa oração é para a Igreja e para a Humanidade. Vivemos em unidade com a humanidade, eu me sinto muito mais em unidade com a humanidade hoje do que quando estava lá fora. 

O Carmelo recebe visitas de pessoas aflitas, que necessitam de oração e na hora da alegria também?
Também! Muitas vezes nasce o filho a pessoa nos trás para conhecermos. Batizam aqui.

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Mateus, Marcos e Lucas Nogueira Garcez

Mateus, Marcos e Lucas Nogueira Garcez
Ovídio Rocha Barros Sandoval*
Recentemente, deixou o nosso convívio o querido padre Matheus Nogueira Garcez, homem de Deus, exemplo de Homem e cultor exímio da língua latina. No exercício do sacerdócio deixou a marca eterna de semear na terra a Boa Nova, como um Mateus redivivo e apóstolo de Nosso Senhor Jesus Cristo.
Antes dele, para igual empobrecimento da Humanidade, partiram os três outros irmãos: Lucas, Marcos e Isaac e que formavam, ao lado de suas queridas irmãs, uma fantástica família.
Seus pais quiseram que, nos nomes de seus quatro filhos, estivesse presente a Boa Nova do Redentor da Humanidade: no nome Isaac o símbolo da Velha Aliança e em Lucas, Marcos e Mateus a presença testemunhada do Salvador.
O professor Lucas Nogueira Garcez, com apenas 38 anos de idade, foi eleito Governador do Estado de São Paulo. Deixou o cargo com 42 anos e não mais se candidatou a qualquer cargo político. Preferiu voltar à sua cátedra de professor universitário e se dedicar ao desenvolvimento do sistema hidroelétrico de São Paulo, que havia planificado em seu Governo, com a sua execução por intermédio das usinas da CESP no Paraná, Paranapanema e Tietê. Marcou sua vida como o exemplo do verdadeiro político preocupado com o bem comum. O jornalista Reali Júnior, em seu recente livro "Às Margens do Sena", relata um fato que bem demonstra a sua beleza de alma. O professor Lucas foi amigo de infância e depois colega de Faculdade de Joaquim Câmara Ferreira, o Toledo, como era conhecido pelos órgãos de inteligência do Governo Federal. Seguiram caminhos diferentes, enquanto Garcez teve uma carreira política dentro da normalidade constitucional, Toledo tornou-se militante do Partido Comunista e depois de 1964 passou a integrar a luta armada contra a Ditadura Militar. Foi preso, torturado e morto na prisão. Ninguém sabia onde Toledo estava sepultado, mas Dr. Lucas, depois de longa pesquisa, descobriu o seu túmulo no Cemitério da Consolação. Desde esse momento e até o fim de sua vida no ano de 1982, havia flores de um desconhecido no Cemitério da Consolação junto ao túmulo de Joaquim Câmara Ferreira. Exemplo de um homem de coragem tranqüila e que ousou na prática de gestos e atitudes de um grande Homem.
Ao desembargador Marcos Nogueira Garcez coube a tarefa de mensageiro da Justiça a todos os homens.
Tive a honra de ser seu Amigo e seu assessor na presidência do Tribunal de Justiça de São Paulo.
Suas qualidades de Homem e de Juiz se projetam na história da Magistratura brasileira, havendo escrito uma das mais belas páginas da gente paulista. Na humildade de sua vida, o exemplo maior de que a humildade é virtude dos fortes. Na delicadeza de sua alma, a força inquebrantável da fraternidade. Em sua primorosa educação, o encontro amável com o próximo. Na beleza de sua fé cristã, o testemunho da presença de Deus entre nós. Na sua fantástica inteligência e formação cultural, a certeza de aplicá-las em benefício de seus semelhantes. Na encantadora vida familiar, ao lado de dona Antonieta, a presença de uma vida dedicada à ternura.
Homem com tantas qualidades, só poderia ter sido um Juiz magnífico. Suas sentenças, seus votos e seus acórdãos, repletos em nossos repositórios de Jurisprudência, são peças marcantes do bom Direito e da incessante busca de se fazer Justiça.
O desembargador Marcos Nogueira Garcez, em sua vida de Juiz, desde os tempos de seu ingresso na Magistratura, bem como no coroamento de toda a sua carreira, tendo exercido todos os mais elevados cargos de nosso Poder Judiciário: Corregedor-Geral de Justiça, Vice-Presidente e Presidente do Tribunal de Justiça de São Paulo, sempre teve presentes as seguintes palavras de Rui Barbosa: "uns plantam a semente da couve para o prato do amanhã, outros a semente do carvalho para o abrigo do futuro. Aqueles cavam para si mesmos. Estes lavram para a felicidade dos seus descendentes, para o benefício do gênero humano". Dr. Marcos, em toda a sua vida, foi um semeador de carvalhos, tendo tido a oportunidade de dizer, no dia em que assumiu o elevado cargo de Desembargador de nosso Tribunal de Justiça: "Eu sonho com um mundo melhor, no qual, respeitadas as leis de Deus e os princípios da fraternidade humana, haja para todos, razoável e equânime participação nos bens da vida e nos benefícios da civilização".
Se a humanidade, bem como todos os Juízes dignos deste nome, vierem a se espelhar no exemplo do saudoso e querido Desembargador Marcos Nogueira Garcez, o sonho se fará realidade.
Em um momento de dor pela perda do saudoso padre Mateus Nogueira Garcez, é possível sentir-se como a sua perda e de seus irmãos, tão queridos, empobreceram, tanto, a Humanidade. Foram verdadeiros apóstolos de Cristo.
________________




*Advogado do escritório Advocacia Rocha Barros Sandoval & Ronaldo Marzagão

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

CARMELO DE PIRACICABA

pedacinho do Céu.....

MADRE ANA DE JESUS - Madre Aninha

Madre Aninha - (Irene Nogueira Medeiros)
Fundadora do Carmelo de Piracicaba e sua 2a. Priora
28/08/1911 - 29/09/1998

"... saiu do Mosteiro de São Paulo com mais tres religiosas, no dia 13 de julho de 1952, rumando para Piracicaba/SP, onde lhe esperava um grande campo de trabalhos numa enorme escassez de recursos.
Nada a fazia desanimar.   Seu temperamento ardente, generoso, empreendedor a impelia para suportar ásperas tarefas e pesados trabalhos físicos e morais com grande sucesso.
Levou á cabo, com ingentes dificuldades, a construção do edificio do carmelo e assim que viu levantada a Casa de Deus, teve a alegria de ir modelando, também as pedras vivas do edifício espiritual. 
Por longos anos esteve á frente do seu Mosteiro, como Priora e Mestra de Noviças.  Quando sua saúde ja ia se declinando foi ajudada por suas filhas espirituais, mas  a cabeça pensante, a última opinião, era sempre solicitada de sua clarividência e espíriro prático.
Não só dentro do mosteiro sua ação repercutiu.   Pessoas leigas vinham pedir-lhe conselhos, expor situações dificeis e saiam consoladas com seu atendimento sempre cordial e religioso, mas repleto de carinho e compreensão.   Assim não é de se espantar que fosse idolatrada em Piracicaba/SP.    Sua preferência era para com os sacerdotes, gostava de atender-lhes em todas as necessidades e com muita fé, a eles se dirigia como se fossem o próprio Cristo...."

sábado, 15 de outubro de 2011

Chegada da Walquiria.... que Santa Teresa de Ávila a abençoe!



O Carmelo de Piracicaba está em festa com a chegada da Walquiria!





Neste dia de Santa Teresa de Ávila, 15 de outubro de 2011, o Carmelo de Piracicaba recebeu a jovem vocacionada Walquiria.    Ela veio da cidade de Osasco e estava acompanhada de amigos e familiares.
A cerimônia teve início com a celebração da santa missa pelo Frei Geraldo Luiz, carmelita e logo após houve a benção e recepção de Walquiria, que adentrou solenemente a clausura sendo recebida carinhosamente pelo Madre Constantina e todas as monjas da comunidade.
É a terceira jovem vocacionada que é recebida neste ano pelo nosso Carmelo, antes vieram a Gabriela e a Luana.
Sejam bem vindas e sejam felizes!

15 de outubro; Santa Teresa de Ávila

 
 
 
Frei Maximiliano Herráiz, OCD
Por Frei Patrício Sciadini e Andréa Luna
Frei Maximiliano Herráiz é espanhol, Carmelita Descalço, Conselheiro Geral do Carmelo para a América Latina e autor de vários livros sobre os místicos do Carmelo.

Por ser um grande estudioso de Santa Teresa de Ávila e de São João da Cruz, ajuda-nos a compreender que os místicos não pertencem ao ontem da Igreja, mas ao futuro, porque caminham à nossa frente. Teresa é mãe e mestra da oração, uma mestra que antes de ensinar experimentou na própria vida a amizade com Deus e depois foi comunicando esse dom a todos os que conviviam com ela.

Quem é Santa Teresa de Ávila? Fale-nos um pouco de sua trajetória como mulher, Carmelita e Doutora da Igreja.

Frei Maximiliano: Podemos distinguir três etapas na vida de Teresa de Jesus.

O primeiro período vai até os vinte anos, tempo em que ficou na casa paterna. Por volta dos quinze anos perdeu a mãe, tornando-se assim o coração da família. Era uma mulher muito inteligente, gostava de fazer amizades, e tinha o dom de unir as pessoas – esta será uma característica forte na sua espiritualidade.

Foi uma das poucas mulheres que podia ler no século XVI, e gostava muito de fazê-lo, tanto para saber mais quanto para ter o próprio pensamento e ser livre diante dos outros.

Podemos destacar também a vocação de Teresa à oração e a grande devoção à Virgem Maria, sobretudo como mãe. Ela mesma, no livro da Vida, diz que depois da morte de sua mãe colocou-se nas mãos da Virgem e a assumiu como mãe.

O primeiro período, portanto, é fortemente caracterizado pelo trabalho como "mãe" dos irmãos e do pai, em casa, e pelo relacionamento com os outros. Era uma mulher muito aberta, de uma afetividade forte, sentia-se amada e amava intensamente. Porém, uma relação de amizade lhe fez muito mal, ela o diz no livro da Vida, porque a introduziu na escravidão afetiva.

O segundo, é o maior período da sua vida: são 27 anos de vida religiosa carmelita, no Mosteiro da Encarnação, em Ávila. Podemos recordar alguns momentos muito importantes.

A escravidão afetiva durou muito ainda como religiosa, até os 39 anos de idade, quando ocorreu sua conversão definitiva – diante de uma imagem do Cristo muito ferido; disto ela mesma fala no livro da Vida.

Outro acontecimento importante, nesse tempo, foi quando a Inquisição proibiu, sobretudo às mulheres, de ler livros. Os inquisidores sabiam muito bem que a formação torna a pessoa livre, independente, autônoma. Teresa chorou muito, mas foi obediente. Isso foi em 1559.

O terceiro período dura 20 anos: de 1562 a 1582, o ano de sua morte. Esse tempo é dividido em três funções: educadora, fundadora dos mosteiros de monjas e monges, e escritora. Todos os livros que temos foram escritos durante esse período.

Podemos recordar, em 1567, o encontro com São João da Cruz. João tinha 25 anos, e ela 52. Gostou muitíssimo, diz ela, desse jovem carmelita, ao qual convida para acompanhá-la na reforma dos frades carmelitas.

Em 1577, escreveu o último livro, o livro das Moradas, tendo João da Cruz como confessor dela e da comunidade da Encarnação de Ávila. Nesse tempo, há um relacionamento muito íntimo entre eles, de amizade e acompanhamento espiritual que se tornou muito importante na vida de ambos.

Santa Teresa é uma mulher de amizade com Deus e com os homens. Como ela descobriu esse trato de amizade?

A descoberta da amizade com Deus é uma graça particular que tem seu fundamento na natureza de Teresa: uma mulher muito aberta, desde menina, às relações interpessoais.

É uma graça mística. Não é possível que uma menina de sete ou oito anos relacione-se com Deus na base da amizade, sobretudo num tempo em que a Igreja e os teólogos não ensinavam que Deus fosse amigo, mas juiz.

Então, essa graça da natureza foi o que dispôs Teresa à descoberta do Deus amigo, que nunca lhe falta, que fica sempre muito perto dela para dar-lhe a mão e levantá-la quando cai no pecado ou na infidelidade.

Existe um método de oração teresiano?

Não existe um método teresiano de oração. Mas podemos dizer que a amizade, o exercício da amizade divina e humana, é o seu método. E esse método inclui uma relação freqüente na fé mútua. Devemos crer em Deus e uns nos outros.

O método é, portanto, o caminho da amizade. Gosto de convidar as pessoas a pensar na amizade – naquela mais forte, mais bela – e a escrever os passos dessa amizade, ver sua história.

Não temos métodos na relação pessoal: cada amizade é uma descoberta particular, um caminho único que percorremos com aquela pessoa. O amor é a força que alimenta a vida humana e nos faz procurar uma relação mais íntima com a pessoa amada.

Se as pessoas acostumam-se a ler a própria vida, a relação com os outros em termos de amizade, vão descobrir muito bem o que é o método teresiano da oração pessoal, cada pessoa tem um caminho na relação da amizade.

O senhor falou que a base de tudo é o amor. Como se deu a descoberta, a experiência do amor de Deus na vida de Teresa?

Foi muito íntima, sem imagens, sem idéias; foi uma graça muito particular de Deus, uma graça divina e humana, porque ela sabia muito bem que possuía uma graça especial para querer e ser querida pelos outros. Esta é a maior de todas as graças: ter a capacidade de amar e ser amada pelos outros; e devemos pedir esta graça.

Isto é uma questão pessoal. Se você lê todos os livros que falam da amizade, mas não tem uma pessoa amiga, você tem apenas a idéia, mas não sabe o que é a amizade. Com Deus é a mesma coisa: eu posso ter idéias geradas nas leituras e conversas com teólogos, mas conhecer Deus é possível somente pela relação pessoal, isto é, pela oração.

E o senhor, como descobriu o Carmelo e encontrou-se com Teresa?

O desejo de ser carmelita e a descoberta de São João da Cruz e de Santa Teresa aconteceram muito cedo, aos 14 anos de idade, com uma certeza absoluta de que eu não podia ser senão carmelita, como eles.

Como foi isso, não sei. Apenas entendo que houve uma luz muito intensa diante de uma imagem da Virgem, no mês de maio.

Depois, meu relacionamento com São João da Cruz e com Santa Teresa foi o de uma pessoa que quer ser salva numa situação muito difícil: aos 25 anos, eu estudava na universidade de Valência, que respirava o clima e as conseqüências da revolução pós Concílio Vaticano II na Igreja, da revolução social de Paris (maio de 68) e da revolução da primavera de Praga.

Pensei que se não estabelecesse amizade com estes dois profetas da verdade e do amor perderia a minha vida como pessoa, como crente e como carmelita. Então, procurei a sua amizade e comecei a lê-los com muita paixão e todos os dias reservei muitas horas para dialogar com eles porque no entorno não encontrava pessoas com as quais partilhar e iluminar minha situação pessoal.

Que conselho o senhor daria aos jovens de hoje que querem ler Santa Teresa? Como devem começar?

Os místicos não são fáceis de se ler, sobretudo para os jovens de hoje, que não têm tempo nem psicologia para sentar-se e ler tranqüilamente, já que têm a televisão, a música...

Portanto, aconselho em primeiro lugar conhecer alguma coisa da vida de Teresa. Depois, é bom ler alguns textos-chave, que elucidam e explicam os escritos. Não é fácil, nem bom, ler Teresa da primeira à última página.

Outra coisa importante é estar profundamente abertos, porque os escritos dos místicos, como Teresa e João da Cruz, são uma comunicação de experiência.

Os livros mais fáceis são Fundações e Caminho de Perfeição... mas insisto sempre nos textos-chave.

Fale um pouco dos seus livros, que certamente podem ajudar a "descobrir" os místicos.

Escrevi alguns livros sobre Santa Teresa e São João da Cruz. Os primeiros, escrevi sem querer, ou seja, escrevi para mim mesmo, somente.

Só Deus Basta, que foi minha tese de doutorado em Teologia, tem seis edições, mas ainda não existe em português. Posteriormente, depois de muitos anos lendo Santa Teresa e fazendo oração pessoal, em dois meses apenas, escrevi A oração, uma história de amizade; tem sete edições, inclusive em português, pelas edições Carmelitana e Loyola. Escrevi também, de São João da Cruz, um outro livro sobre oração: Palavras de um maestro; também publicado muitas vezes na língua espanhola. E um pequeno livro, intitulado A união com Deus, graça e projeto – catecismo São-Joanita, é um guia de leitura dos livros de São João da Cruz. Depois, fiz também a publicação com notas, introduções e notas de rodapé das Obras Completas de Santa Teresa e de São João da Cruz. E outros livros, como Oração, uma experiência libertadora.

O que Santa Teresa pode dizer aos homens e mulheres do terceiro milênio?

Pode dizer muito! Santa Teresa queria ser uma pessoa livre, independente. Sem liberdade, não podemos ter bons relacionamentos. Então, para ser autônoma, independente, a santa procurou a formação pessoal: ler, estudar, dialogar com pessoas que conhecem, por exemplo, a Teologia, a Bíblia, para que o relacionamento com elas a ajudasse a ter as próprias idéias e não depender de ninguém.

A santa diria também aos homens e mulheres do terceiro milênio que não podemos falar de valores individuais, porque a pessoa é, essencialmente, social, comunitária. Não posso ser eu mesmo sem a relação com os outros. Eu sou o que são as minhas relações com os outros. Portanto, uma pessoa deve abrir-se ao diálogo. Como cristãos, temos a urgente necessidade de lembrar que Jesus faz comunidade. Não é possível seguir Jesus sozinho, mas com os outros. E a Igreja, a comunidade, não pode fechar-se sobre si mesma. Acredito que Santa Teresa estaria muito contente com o documento do Concílio Vaticano II sobre as relações da Igreja com o mundo, porque era uma mulher aberta ao diálogo.

A experiência da relação com os outros nos faz entrar em nós mesmos para descobrir as imensas riquezas que Deus nos dá. Então, que cultivemos a relação com os outros, porque é disso que mais precisamos para crescer.

O matrimônio espiritual de que fala Santa Teresa é apenas para os religiosos e religiosas, ou é também para os leigos que vivem no mundo?

O matrimônio espiritual é o símbolo das relações de Deus com a humanidade, é a partilha mais profunda entre duas pessoas. É a máxima individualização e a máxima comunhão. Não se pode estabelecer uma relação de comunhão se não permaneço "eu" mesmo e o outro não permanece "ele" mesmo. Então, a relação mútua, recíproca, nos faz indivíduos unidos. É a plenitude do amor: acolher o outro e deixá-lo ser ele mesmo e dar-nos a ele com todo o nosso ser. É a relação mais íntima, mais profunda.

Devemos dizer aos cristãos que Deus é amor. E, por ser amor, não chama ninguém a uma vida medíocre, Ele chama todos à plenitude, e a plenitude de vida é uma plenitude de relação. E quando fala de relação com Deus, a santa – como João da Cruz, como a Tradição da Igreja – fala do matrimônio espiritual, que é a história da relação humana mais íntima, mais significativa.

Então, Deus chama todos, sem distinção de leigos, religiosos... Deus chama todos a viver o amor, simplesmente. Porque a nossa vocação é amar tanto quanto somos amados.

Santa Teresa, insistindo muito na oração, não corre o risco de beirar a alienação?

Uma pessoa que crê no amor não pode ser alienada senão de si mesma. A alienação de si mesma é a exigência interna do amor. Quando amo, saio de mim mesmo para colocar meu amigo, minha amiga, no centro da minha vida.

O amor, unicamente ele, faz a alienação positiva, realizadora da pessoa. Por isso Santa Teresa insiste tanto nas obras. Se tenho uma relação íntima contigo, não posso deixar de amar e de fazer o bem a todas as pessoas que tu amas. Teus amigos são meus amigos. Com Deus é a mesma coisa: se tenho uma relação de amizade com Ele, não posso deixar de estar em comunhão com todas as pessoas que Ele ama.

Por que existe tanto interesse pelo Carmelo hoje?

O mundo e a Igreja procuram os místicos carmelitas, Teresa e João da Cruz, sobretudo porque estes receberam de Deus uma graça grandíssima de enamorar-se por Ele e de poder comunicar sua experiência de relação com Deus de uma maneira agradável. As pessoas procuram Teresa e João da Cruz para descobrir o próprio caminho de relacionar-se com Deus.

Quando uma pessoa conta a sua experiência, muitas outras gostam de ouvi-la, porque descobrem as suas possibilidades pessoais e os desejos de fazer o próprio caminho de experiência.

Santa Teresa e São João da Cruz são lidos apenas por católicos?

Não, eles são muito lidos fora da Igreja, por exemplo entre muçulmanos e hindus; e fora do Ocidente, como no Egito, na Líbia, na Índia e no Japão. Porque os místicos não falam propriamente como teóricos da sua fé, mas falam da sua experiência. Então, uma pessoa não crente, quando os lê, procura a experiência espiritual de uma pessoa, uma experiência que é fonte de vida para todos.

O que o senhor sente ao ver uma comunidade nova na Igreja, como a Comunidade Shalom, que tem Santa Teresa como baluarte da sua vocação?

Para mim, significa uma grande alegria. Reconheço que as pessoas que procuram a amizade de Santa Teresa são muito inteligentes, porque procuram uma mulher verdadeiramente enamorada por Deus, com uma capacidade de introduzir as pessoas no caminho da amizade.

Então, quando um grupo de pessoas procura a proximidade com uma pessoa rica espiritual e humanamente, para mim é uma alegria imensa, porque penso que elas farão um caminho muito bonito de realização pessoal e de realização cristã.

Sou carmelita, mas Teresa é uma mulher da humanidade. Uma das grandes pessoas que Deus deu à humanidade para ajudá-la no caminho da realização.

O que o senhor pensa sobre esse tempo novo na Igreja, de leigos consagrados, Movimentos e Comunidades?

Os leigos são para mim a graça maior no conjunto da Igreja pós-Conciliar. Mas existe uma preocupação acerca da formação desses Movimentos e da sua inserção na Igreja Católica, através da inserção nas Igrejas particulares.

Segundo os nossos místicos, a formação – intelectual, moral e espiritual – é o mais importante para a sobrevivência dos Movimentos e Comunidades. Devem ser livres, ser eles mesmos, buscar a especificidade do seu carisma; e que sejam abertos ao conjunto da Igreja, não se fechando sobre si mesmos; tenham também uma profunda relação com aqueles que chamamos místicos, que ensinam a ter o máximo de carisma e o mínimo de estrutura. Quando a vida é fraca, tendemos a multiplicar as estruturas; quando a vida é rica, não precisamos de tantas estruturas.

O senhor poderia citar três pensamentos de Santa Teresa e de João da Cruz de sua preferência?

De São João da Cruz: "A saúde da pessoa é o amor"; "De Deus alcançamos tudo o que esperamos"; "Com Deus estamos unidos, segundo a nossa fé; quanto mais caímos, mais unidos estamos a Deus".

De Teresa de Jesus: "A amizade é a mais verdadeira realização da pessoa"; "A amizade com Deus e a amizade com os outros é uma mesma coisa, não podemos separar uma da outra"; "Quem ama, faz sempre comunidade; não fica nunca sozinho".

Que mensagem o senhor deixaria aos amigos de Santa Teresa e nosso Internautas?

Uma palavra simples: o amor é visível; podemos ver quando uma pessoa ama, porque se torna aberta aos outros, procura fazer-lhes o bem, é receptiva das experiências e palavras dos outros. Quando alguém descobre que é aberto ao amor, então é amigo de Deus.

Lembro também que, como somos racionais, procuramos conhecer o que vivemos. Então, todos devemos discernir, examinar o nosso relacionamento pessoal com Deus.

Minha vocação é de Deus para os demais!

Não sei com que grau de consciência e segurança confessei a meus pais o desejo de ir para o Seminário Menor, por volta dos 12 anos de idade. O certo é que pouco tempo depois iniciei meu caminho. E o mais certo – porque guardo disto uma viva memória, impressa no mais íntimo de mim – é que considerei sempre como o dia de meu verdadeiro chamado, ou ao menos de minha verdadeira resposta à vocação, um dia de maio, em que diante de uma imagem da Virgem Maria tive a convicção de que só poderia ser carmelita. A decisão foi evidente: o Diretor do Seminário me disse que, se eu não tivesse tão boas notas, já teria me expulsado, "porque era muito rebelde"; no ano seguinte àquela experiência luminosa, recebi um prêmio de bom comportamento.

No noviciado – dos 16 aos 17 anos – minhas experiências levaram-me a uma convicção luminosa e maravilhosa de minha vocação. Lia incansavelmente e possuía notável inclinação para a oração, o que proporcionou nesse período um contato muito pessoal com Teresa e João da Cruz. Conformava-me em experimentar o gosto de estar com eles, de escutá-los no silêncio de minha cela.

Mais tarde tive de dar um salto: por volta de meus 28 anos, redescobri o valor daqueles contatos de juventude com meus pais, Teresa e João, quando vivia bem minha vocação – já no quarto ano de sacerdócio – e uma desafortunada atuação de meus superiores me pôs à beira do precipício. A luz se acendeu em meu interior. Quando me insinuaram – pessoas de cujo amor fraterno não tinha nem tenho dúvida alguma – a saída, surpreendi-me dizendo a mim mesmo: só Teresa e João, meus pais, me dirão a verdade de que necessito.

Devo dizer que jamais me passou pela mente deixar a Ordem e pus-me a dialogar (não simplesmente ler) com eles com muita urgência e paixão. Jamais esquecerei o deleite, o gozo profundo e a luz deslumbrante que – partindo do espírito de meus mestres e amigos – tantas vezes adentraram em meu espírito. Costumo dizer que minha experiência com Teresa e João da Cruz resume-se no seguinte: evangelizaram-me, aproximaram-me do Deus e Pai de Jesus; a misericórdia divina banhou as profundidades do meu ser.

Porque se deu este diálogo tranqüilo, amoroso, orante, estou onde e como estou. Em plena efervescência dos 68 anos, de convulsões profundas, vivendo em uma universidade civil, estudando Filosofia muitas horas por dia. Penso que até a Igreja teria deixado se não houvesse me abrigado à sombra protetora de Teresa e de João da Cruz